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Carro popular triplicou de preço no Brasil ao longo da última década, e essa valorização impacta profundamente o acesso do consumidor ao veículo zero-quilômetro. O cenário, marcado por indicadores econômicos e mudanças estruturais no setor, revela transformações relevantes para quem busca comprar um automóvel novo no país.
Crescimento acentuado acima da inflação
De acordo com números apresentados, o preço de um carro popular passou da casa dos R$ 30 mil, em meados de 2016, para valores superiores a R$ 79 mil em 2025, demonstrando um salto de mais de 148% nesse período. Para efeito de comparação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou inflação de 63% entre abril de 2016 e 2025, o que mostra que o aumento dos carros superou, e muito, a elevação dos preços médios da economia neste intervalo.
Mudanças estruturais impactaram preços
Vários fatores contribuíram para esse avanço. Em 2021, a cadeia de produção automotiva global enfrentou forte escassez de componentes eletrônicos, resultado do fechamento de fábricas e da falta de matérias-primas causada pela crise da Covid-19. Esse cenário, além de reduzir a oferta de veículos, gerou aumentos abruptos nos preços dos novos e impulsionou também a valorização dos seminovos. Segundo o banco BV, os preços dos usados subiram mais de 50% em menos de um ano nesse período.
Registros da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto) destacam que, entre janeiro e setembro de 2025, o mercado brasileiro comercializou 13.478.486 veículos seminovos e usados — um crescimento de 16,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. Essa procura está diretamente ligada ao encarecimento dos veículos zero.
Política tributária e custo de produção
Medidas pontuais de redução de impostos, como a isenção de IPI com o Programa Carro Sustentável, fizeram com que modelos de entrada apresentassem recuo nos preços, chegando a níveis a partir de R$ 67 mil em 2025. Modelos como Kwid Zen, Mobi Like, C3 Live e Polo Track figuram como os principais representantes dessa faixa de preço, alavancados por incentivos fiscais concedidos a veículos que atendem a critérios ambientais e de fabricação local.
Apesar disso, esses incentivos não foram suficientes para reverter a tendência de alta, pois a maioria dos carros segue influenciada pelo custo dos insumos, aumento do peso do veículo por exigências de segurança e tecnologia, além de movimentações de margem das montadoras diante das mudanças tributárias. Especialistas do setor observam que, diante do histórico recente, mesmo com eventuais reduções de impostos, há resistência das empresas em repassar todo o desconto ao consumidor final.
Perspectiva do mercado automotivo brasileiro
O nível de preços dos carros novos limitou a demanda por zero-quilômetro, ao mesmo tempo em que impulsionou a procura por veículos usados como alternativa mais acessível. O presidente da Fenauto, Enilson Sales, estima que 2025 deve encerrar com 17 milhões de unidades vendidas no segmento de usados, superando o recorde dos anos anteriores.
A diferença de valorização entre carros e outros produtos da economia brasileira acende um sinal de alerta para futuros compradores: a tendência de preços elevados deve persistir, com apenas oscilações pontuais em função de políticas públicas e ações promocionais de montadoras.
Fonte: Canaltech