
Honda prepara mudanças significativas para o mercado brasileiro de automóveis, conforme exposto pelo diretor comercial Marcelo Langrafe em entrevista ao g1. Entre os principais destaques, estão os planos para o novo WR-V, os avanços no desenvolvimento dos veículos híbridos flex e o aumento da capacidade produtiva no Brasil.
Eletrificação gradual e o papel do etanol
A marca japonesa ainda mantém cautela quanto à eletrificação total de sua linha. Langrafe explicou que a estratégia de eletrificação será aplicada gradualmente, respeitando o ritmo do mercado brasileiro. “Nós temos uma estratégia de eletrificação que será aplicada gradualmente, conforme a demanda do mercado. O importante é que haja condições iguais de competição, para que isso seja positivo para o Brasil”, afirmou o executivo.
O foco da Honda são os híbridos flex desenvolvidos em solo brasileiro. Apesar de a tecnologia ainda não ter previsão de lançamento, Langrafe destacou o papel do etanol como diferencial nacional. Para ele, “a tecnologia híbrida é a ponte entre a combustão e o elétrico, e o etanol é o grande legado do Brasil”. Atualmente, a única montadora com híbridos flex no país é a Toyota, cujos modelos correspondem a uma participação modesta nas vendas: de janeiro a agosto, apenas 12,9% dos Corollas e 15,6% dos Corolla Cross vendidos foram com motorização híbrida flex.
No momento, a Honda comercializa no Brasil modelos híbridos importados, como CR-V, Accord e Civic. No entanto, segundo o diretor, os preços elevados limitam o alcance desses veículos. A marca reafirma a promessa de uma transição “gradual e adaptada à realidade brasileira”.
Juros altos e perfil do consumidor
O cenário macroeconômico brasileiro, sobretudo a taxa Selic em 15% ao ano, representa outro desafio. Segundo Langrafe, os juros elevados provocam cautela na compra de bens duráveis. Apesar disso, 75% dos clientes Honda compram à vista, minimizando o risco de inadimplência.
Questionado sobre a possibilidade de fabricar no Brasil modelos atualmente importados, como o CR-V, ZR-V e Civic, o diretor preferiu não adiantar informações, mas garantiu que a empresa está atenta às necessidades do consumidor nacional.
Investimento bilionário e ampliação produtiva
Até 2030, a Honda pretende investir R$ 4,2 bilhões para ampliar sua capacidade de produção no Brasil. O plano prevê que, ainda em dezembro deste ano, a fábrica de Itirapina (SP) passará a operar com dois turnos completos, alcançando capacidade anual de 120 mil veículos. Apesar do avanço, a Honda permanece atrás da Toyota, que produz 268 mil veículos por ano em suas duas fábricas em Sorocaba (SP).
Disputa de mercado e estratégia de importação
Com a decisão de importar o Civic, a tradicional disputa com o Corolla perdeu intensidade, já que os preços do Civic subiram e as vendas caíram, enquanto a Toyota fortaleceu a produção nacional. Para Langrafe, a situação está alinhada com o planejamento da marca: “Está dentro do plano que estabelecemos para esses modelos”.
Liderança em motocicletas e desafios nos carros
Langrafe teve longa trajetória na divisão de motocicletas da Honda, onde a marca mantém liderança ininterrupta há quase 40 anos, com cerca de 70% de participação no mercado – índice considerado raro no setor automotivo global. Ao comparar os segmentos, ele nota um desafio maior nos automóveis, dizendo que o mercado é “extremamente competitivo”.
Desse modo, a Honda aposta em uma expansão sustentável e no desenvolvimento de tecnologias híbridas adaptadas à realidade brasileira como resposta aos desafios e oportunidades do setor.
Fonte: g1.globo.com